Sabe, amor? Em mais um de meus devaneios pensei em quão bom seria te ter como meu vizinho. Sua casa seria em frente à minha, e a janela do seu quarto seria alinhada à minha janela, para que todas as vezes em que eu não pudesse sair, conversássemos por ali mesmo.As coisas que eu não pudesse dizer, eu escreveria numa folha com canetões de ponta grossa. Você reclamaria que não conseguiria enxergar e eu, por puro exagero, escreveria-a novamente em uma grande folha de cartolina.- Consegues enxergar agora, ceguinho? - Rir-me-ia com tua cara emburrada resultante do apelido bobo.- Venha cá, menina. Não quero forçar a vista! Quero-te ao meu lado, aqui. Não quero mais te ver através de uma distante janela. - Dirias rindo e com face de filhote pidão.Então eu sairia da janela, e com a desculpa de ir a qualquer lugar, sairia de casa. Correria até a tua porta, e chamar-te-ia por Ceguinho, até que me atendesse.Assim que a porta se abrisse, puxar-me-ias pela cintura. Olharias em meus olhos e sorrindo me diria:
- Posso ser “Ceguinho”, mas te vejo perfeitamente daqui.Sorrindo, encher-te-ia de beijos carinhosos equanto, num salto, me pegarias no colo. Iríamos até o telhado, onde sentaríamos e, em meio a conversas, risadas e carinhos, veríamos o por-do-sol, ou até mesmo, as estrelas.
- Coração Invisível